Relato Autobiográfico de uma pessoa “Empoderada” além do seu tempo.
“Somos o lugar onde nós fizemos, as pessoas com quem convivemos. Somos a história de que participamos. A memória coletiva que carregamos.”
Miguel Arroyo
A história se faz no tempo e através das memórias e dos registros buscamos eternizá-la…
A tarefa de escrever um “memorial”, discorrer sobre Zulima, suas trajetórias pessoais, profissionais, familiares etc; me coloca num papel reflexivo de rememorar histórias, vivências e expectativas, de reviver fatos marcantes e talvez esquecidos que aqui iremos recordar.
1 – Apresentação
Meu nome é Zulima Laranjeira de Souza, tenho 90 anos e vou contar um pouco de minha trajetória.
Nasci em Baixa Grande, aos 07 de Março 1933, na Rua Itapicuru, nº 1007 (atual Avenida 02 de Julho)
Faço parte da primeira geração de filhos do sr. Miguel Mascate de Souza e d. Izabel Laranjeira.
Sou a 1ª filha de 13 irmãos, vivos se encontram 06.
Tive outros irmãos da 2ª geração.
Tive 06 filhos (do coração)
Netos: 04
Bisnetos: 02
2 – Infância e adolescência
Posso dizer que minha infância foi um tanto conturbada, mas feliz. Durante toda a minha infância e também a adolescência, morei em Baixa Grande, com os meus pais biológicos até os 16 anos de idade, quando se deu o falecimento de minha mãe. Logo após, fui morar em Feira de Santana com o Sr. João Nunes da Silva e família (coletor federal). Passado um certo tempo, por não me adaptar retornei para minha residência, para ficar com os meus irmãos, com pouco tempo, meu 2º irmão partiu para São Paulo, fiquei tomando conta dos irmãos menores. No decorrer, meus irmãos foram se espalhando para o convívio com outras famílias e isso me causou grande tristeza. Nesse período, fui muito protegida pela Srª. Alice dos Santos Carvalho, que sempre esteve pronta para servir toda a minha família, em especial minha mãe, quando em vida, nos momentos de dores e sofrimentos. Sou muito grata e reconhecedora, por ter ficado ao nosso lado até o final e ter criado minha irmã Eurides (Chú) com total apoio.
Uma brincadeira que me lembro bastante era: cantar roda, pular macaco etc. Era uma criança travessa também, mas essa parte é segredo.
Sinto muita saudade e fico bastante emocionada em lembrar-me de coisas maravilhosas que fiz em minha infância.
A adolescência também foi um período da minha vida muito bom, mas pensava muito nos irmãos. Nessa fase, também tive a oportunidade de trabalhar no armazém de sr. José Leão na praça Manoel Ribeiro Soares, já trabalhei também de colocar água de ganho, lavar, passar para sustentar os meus irmãos menores.
Saia com os meus amigos e nunca me envolvi em confusões.
Sempre me dei bem com todos.
Fiz muitas festas de: Terno de Reis, São João, todas organizadas a convite, no Clube 05 de Março.
Sempre gostei de dançar e era muito procurada para ensinar as minhas colegas a dançarem.
Passado o tempo, fui acometida por uma forte enfermidade aos 19 anos, por ter uma boa amizade desde o tempo da minha mãe, e eu, com os filhos da família, de sr. Juvenal Ribeiro Machado e Francisca Ribeiro Machado, onde foi aí que a filha mais velha, Anita Ribeiro Machado pediu aos seus pais que me acolhessem, assim, atendido o pedido, segui para a companhia da família em novembro de 1956.
Lá fui bem recebida e nada me faltou, graças a Deus.
Tenho apreço a todos na família, para com alguns tive influências fortes, até mesmo em preparativos de casamento, posso aqui citar minha saudosa comadre Adalzira (Bazinha ) a qual tínhamos uma sintonia enorme. Pessoa que me valeu muito em horas difíceis.
Conquistei o apreço de vários da família, que por me considerarem muito, me tornei madrinha de várias gerações, filhos, sobrinhos, netos.etc. Todos tinham a minha pessoa como irmã e não faziam nada sem antes me consultar.
Convivi com outros adotados também pela família, assim como eu, tinha Zulmira a qual, não posso esquecer.
Trabalhei de roça, seguia com os meus irmãos adotivos para todos os lugares, por ser já bem adiantada no mundo da civilização, fui levando aos poucos cada um deles para Feira de Santana, Itaberaba etc e a família tinha extrema confiança em deixar sair comigo.
Em todos nós sempre havia o medo de desapontarmos nossos pais (criadores) que sempre procuraram nos proporcionar o melhor, muitas vezes algo que eles não tiveram como fazer devido a dificuldades financeiras. Isso foi muito bom para a formação de meu caráter e de adquirir responsabilidade para a vida.
Sinto muita saudade e fico bastante emocionada em lembrar-me de coisas maravilhosas que fiz nessa época.
3 – A vida escolar
Minha educação, mesmo que meus pais tivessem poucos estudos, tudo com muita dificuldade na época, mas pela minha própria personalidade, sempre fui de buscar oportunidades de vivenciar e contactar com pessoas que me estimulavam e me favoreciam. A minha força de vontade era muita, para com a leitura e a escrita. Ainda na educação primária aqui em Baixa Grande, tive as professoras D.Judite Oliveira, Emília e Juleica e Profª Maria Edna Matos, me dedicava com grande empenho aos meus estudos, recebia a doação dos meus livros do sr. João Nunes.
Estudei em uma sala multisseriada, tive como colegas: Aldari Araújo, Maria José Matos, Judite da Silva, Adalício Barreto e tantos outros, bons tempos vividos.
4- A vida profissional
Comecei a trabalhar, para ajudar no sustento dos meus irmãos. Sempre fui muito decidida e determinada, enfrentei a vida muito cedo. Tive aqui na cidade meu primeiro emprego como professora estadual ( supletivo ) na fazenda Barraca, tive também aos sábados na Feira livre barraca de doces.
Fiz um concurso no fim de abril de 1964, para tesoureira da Prefeitura Municipal, sendo aprovada, fui convocada a trabalhar dia 12 de maio de 1964, nesse cargo atuei até dezembro de 1993. Vivenciei por um certo tempo a função de secretária, trabalhava com as duas funções. Depois fiz parte do Serviço Militar da 6ª região, no tempo do capitão Arlindo Barbosa e também continuava exercendo o papel de tesoureira.
Em virtude de se tornar muito cansativo, passei as outras funções a um novo funcionário Vanderlei Oliveira Santos e continuei na função de tesoureira e nas devidas orientações que era procurada.
Na vida política, sempre atuei e convivi intensivamente com políticos de grandes nomes.
5- Vida Cristã
Iniciei minha vida cristã atuante, aos 07 anos de idade, as orações de todo cristão já eram presentes em minha vida, sabia todas elas. Aprendi no próprio ambiente familiar.
Recebi todos os sacramentos. Fui batizada com 04 meses de idade. Meus padrinhos chamavam-se Sinval da Silva Miranda e Eliza Araújo Barreto.
Fui crismada, pela Srª Durvalina da Silva Nunes)
Iniciei a cantar no coral da igreja com a instrutora Judite Oliveira, aos 07 anos de idade no coro da Igreja Matriz, com orquestra , maestro sr. Maroto Araújo, e outros instrumentistas na época.
Por ser muito pequena e nova, cantava em cima da “cadeirinha de missa” fui até premiada na época.
Acredito que as oportunidades aparecem nos momentos certos de nossas vidas e depende de um cada um de nós, decidirmos se elas podem ou não mudar nossos caminhos e objetivos a serem alcançados.
Hoje posso dizer com muita convicção que fiz a escolha correta, dos passos que escolhi trilhar para minha vida, estando aos 90 anos de idade, só tenho a agradecer a Deus e a todos os que convivi as experiências e ensinamentos adquiridos ao longo da minha trajetória.
Guardo para sempre um grande ensinamento deixado por minha querida mãe: Saiba viver com todos”.
Daí guardo e guardarei ao longo da minha existência.
VIVA A VIDA!!!