Valdenor de Oliveira Pereira, 52 anos, nasceu num povoado que tem pouco mais de 20 casas e uma igreja e é um daqueles personagens que retratam a alma do País. A parede de sua casa, em Viração, área rural de Baixa Grande, é coberta por cartazes da campanha de FHC. É dono de uma roça, um bar, dez jumentos e dois porcos. Nunca viu uma nota de dólar na vida. Estudou até o segundo ano primário, mas com a ajuda de uma televisão e um rádio mostra o que sabe da crise no País.
ISTOÉ – O sr. apoiou o presidente?
Valdenor Pereira – Eu fiz campanha das duas vez. O pessoal falava do Lula, mas eu não me empatizo com o PT. Toda vida fui pobre, não tenho nada a perder, então esse plano que o Fernando Henrique criou ainda não teve prejuízo. O que eu recebo da Previdência, dá pra mim e pras minhas duas crianças. O que eu compro há quatro anos, o preço não subiu. Mas não sei daqui em diante. Tô ouvindo falar que tá subindo frango, tá subindo ovos. Mas eu peguei na televisão que o governo não autorizou. É os gananciosos que quer que a inflação volte a disparar.
ISTOÉ – O sr. acompanha a crise?
Pereira – Não durmo de touca. Pra onde eu vou eu tenho meus aparelho. Tenho minha televisão e tenho meus radinho. Eu tô trabalhando de foice, de enxada e o rádio tá lá ligado.
ISTOÉ – E se os preços subirem?
Pereira – Aí nós somos obrigados a perder a fé no homem.
ISTOÉ – Então o sr. acha que a culpa é dos ganaciosos?
Pereira – Não sou eu que acho. É o que tô vendo ao vivo na televisão. O dólar disparou e a nossa moeda ficou rebaixada. Na hora que eu ver que ele tá fazendo que nem Sarney, que nem Collor… Porque eu votei para Collor… Se ele voltasse eu votava nele.
ISTOÉ – E a alta do dólar??
Pereira – Aqui nós acompanha pela televisão. Nós tem um sinal que pega a Globo, mas ela encobre muita coisa, então na casa da minha irmã que tem parabólica a gente vê o SBT, a Manchete, vários canais.
ISTOÉ – O que o sr. achou do aumento de imposto dos aposentados?
Pereira – No mês de maio quem recebe acima de R$ 600 vai pagar 11%. Agora eu queria receber acima de 600 e pagar 11%. Não achava ruim de trocar não. O presidente tá fazendo uma coisa certa. Ele não está explorando de mim que ganho 130.
ISTOÉ – E o ministro Pedro Malan?
Pereira – Ele tá seguindo à risca o nosso presidente. Porque se ele é ministro da Fazenda e permanece no cargo é porque é de grande confiança.
ISTOÉ – O que melhorou?
Pereira – Passei a comprar tudo. Eu não tinha televisão nem rádio. Agora sobra pra cachaça e um pacote de fósqui (fósforo).
ISTOÉ – O que o sr. faria para a inflação não voltar?
Pereira – Se eu tivesse a chave do Brasil, deixava nesse patamar. Se não subisse também não baixava, que nem corpo por riba d’água.